quinta-feira, 24 de abril de 2025

Azul como uma laranja - Paul Éluard

A beleza que não faz sentido (e por isso mesmo é real)

Por Pinguim Urbano


Azul como uma laranja
    
A Terra é azul como uma laranja
Nunca um erro as palavras não mentem
Não te dá o que te prometem
Com alento a te prender

Os loucos e os amantes
Ela, sua boca de aliança
Todos os segredos, todos os sorrisos
E que indulgente ornamento

Até mesmo a morte a suporta
Os amores de sua vida
O seu segredo, sua saliva
Sua febre de sempre
Ela diz sim a tudo

~Paul Éluard

“A Terra é azul como uma laranja”

É assim que começa. Com um erro. Com um delírio. Com uma imagem que não deveria fazer sentido, mas faz — de um jeito que só quem anda com o coração quebrado pelas calçadas entende. Porque às vezes o mundo é isso: bonito e completamente incoerente.

Paul Éluard era surrealista. Mas o que ele escreve aqui não é só surreal — é poético na forma mais suja e pura da palavra. Ele diz que as palavras não mentem, mas também avisa que elas não te entregam o que prometem. É como a vida. Como o amor. Como as promessas que a gente ouve e já sabe que vai engolir com gosto de limão.

“Todos os segredos, todos os sorrisos E que indulgente ornamento Até mesmo a morte a suporta”

Ele está falando de uma mulher? De uma ideia? De um estado mental? Não importa. O que importa é que o que ele vê é estranho e belo ao mesmo tempo. E isso incomoda, porque a gente vive tentando dar sentido às coisas. Mas a beleza mais brutal é a que se recusa a caber nas explicações.

“Ela diz sim a tudo.” É rendição? É liberdade? É loucura? Pode ser tudo. Pode ser nada. Porque o surrealismo não explica — ele provoca. E esse poema é exatamente isso: uma provocação macia como a polpa da fruta errada.

A Terra, no fim das contas, continua azul. A laranja continua sendo doce. E a poesia segue sendo esse espaço onde a verdade e o absurdo dormem abraçados. No fundo de uma rua que ninguém passou. Ainda.


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