domingo, 27 de abril de 2025

Bilhete – Mario Quintana

Não grite meu nome

Análise por Pinguim Urbano • Selo: Clássicos Desfeitos

   
Bilhete 

Se tu me amas,
ama-me baixinho.
Não o grites de cima dos telhados.
Deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
amada,
que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda.

~Mario Quintana

“Se tu me amas, ama-me baixinho.”

Quintana não pede amor. Pede silêncio. Pede espaço para que o amor exista sem virar espetáculo. Como quem sabe que a luz demais estraga a fotografia. E que sentimento exposto demais apodrece mais rápido.

“Não o grites de cima dos telhados.”

O poeta rejeita o amor performático. Não quer que o sentimento vire anúncio. Porque amor, pra quem entende de perda, precisa ser tratado como uma coisa frágil. Algo que se carrega escondido no bolso, não em bandeiras de rua.

“Deixa em paz os passarinhos. Deixa em paz a mim!”

A súplica aqui é por leveza. Não perturbe o que é livre. Nem os pássaros, nem o poeta. Porque o amor, se vira algema ou obrigação, não é mais amor — é prisão. E quem tem o olhar gasto da vida reconhece esse peso antes mesmo de ser colocado.

“A vida é breve, e o amor mais breve ainda.”

A última linha é quase um epitáfio. Não há ilusão. Nem a vida, nem o amor, duram tempo suficiente para suportar exageros. Tudo que é intenso demais se desfaz antes de encontrar descanso. E talvez amar “baixinho” seja a única forma de tentar fazê-lo durar um pouco mais.

No fim, esse bilhete é menos um pedido de amor do que uma instrução de sobrevivência. Para que o pouco que se sente não se perca no excesso do que se quer mostrar.


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