Feita de som, água e sombra
Por Pinguim Urbano
De vez em quando, eu caminho fora das minhas ruas habituais. Esse poema não é meu, mas está em um projeto do qual faço parte — onde outras vozes também escrevem com o que sobra da alma. Abaixo, minha leitura de um dos textos que veio de lá. Deixo o link do poema (existem vários outros lá, que pretendo analisar no futuro) segue aqui o caminho.
“Ela é fantástica e nem se dá conta”
O poema começa com espanto — não o da surpresa, mas o da rendição. Dário escreve como quem descreve um fenômeno da natureza: algo que escapa à lógica. Ela não precisa saber. Ela apenas é. E isso já basta pra virar furacão dentro de quem vê.
A mulher aqui não é musa passiva. Ela é movimento. Inunda, invade, colore, toma. É como um rio que não pede licença. E o eu lírico não tenta domá-la — tenta sobreviver ao impacto.
“Ela só pode ser feita de som / Pois com ela não ouço mais nada”
Essa inversão é poesia pura: ela é som, mas cala o mundo. Como se a presença dela vibrasse mais alto que qualquer palavra. E aí mora o perigo — porque o som dela não é música de fundo. É trilha de descontrole.
“Mistura de partida e chegada” define o estado de confusão amorosa: quando alguém parece fim e começo ao mesmo tempo. Quando você não sabe se está sendo salvo ou engolido.
“Ela envolve, ela toma, ela mata”
O verbo aqui é fatal. Não há defesa contra o que ela é. O eu lírico sabe que está vulnerável — e aceita. Não por fraqueza, mas porque lutar contra isso seria negar a própria experiência de sentir.
E então vem o desfecho: “Ela é fantástica e nem se dá conta.” A mesma frase do início, mas agora com peso acumulado. Depois de ser rio, som, sombra, cor e faca — ela volta a ser só... ela. Como se nada tivesse acontecido. E ele, do lado de cá, continua olhando. Continuando a ser invadido.

Nota do Pinguim:
Esse poema é puro Dário Junior: uma mistura de admiração e vertigem. Ele olha pra “Ela” como quem encara um cometa — luz demais, força demais, distância inevitável.
Após a analise eu o pedi para me contar um pouco sobre (vantagens de conhecer o autor pessoalmente), teve pontos interessantes nesse papo:
- Foi o primeiro poema escrito por Dário em cerca de 10 anos
- Foi uma paixão proibida, intensa, com início, meio e fim
- Ele me confidenciou que quase escreveu o nome dela no poema (Existe uma frase onde se encaixaria perfeitamente)
- Não ele não me disse onde ou o nome :(
- Ele me deu um enigma: Ela não é Ella, foi bem antes, porém, nesse poema tem um motivo fonético para o uso de "Ela" repetidas vezes.🙄❔❓❔
- Preciso fazer novos amigos.🐧
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