Estilo ou Nada
Por Pinguim Urbano
Estilo
Estilo é a resposta para tudo.
Um jeito especial de fazer uma estupidez ou algo perigoso.
Antes fazer uma estupidez com estilo do que fazer algo perigoso sem estilo.
Fazer algo perigoso com estilo é o que eu chamo de Arte.
Tourada pode ser arte.
Boxe pode ser arte.
Amar pode ser arte
Abrir uma lata de sardinha pode ser arte
Não muitos tem estilo
Não muitos mantém o estilo.
Eu já vi cães com mais estilo que homens
Apesar de que poucos cães tivessem estilo.
Gatos tem em abundância.
Quando Hemingway colocou seus miolos no muro com uma espingarda, teve estilo.
Há pessoas que dão estilo
Joana D’Arc tinha estilo.
João Batista,
Jesus,
Sócrates,
César,
García Lorca.
Conheci homens na prisão com estilo.
Conheci mais homens com estilo na prisão do que fora dela.
Estilo faz a diferença.
O jeito de se fazer.
O jeito de ser feito.
Seis garças em pé tranquilas numa poça da água
Ou você, saindo nua do quarto, sem me ver.
– Charles Bukowski
“Estilo é a resposta para tudo.”
Bukowski não faz curva. Ele não está atrás de beleza nem de redenção — ele quer saber do **jeito** que se vive. Estilo, pra ele, não é estética, é posição. Uma forma de carregar o próprio caos com a cabeça erguida, mesmo que a cabeça esteja explodindo contra um muro, como Hemingway.
Aqui, estilo vira resistência. Um cão pode ter estilo — um homem, nem sempre. O contraste é deliberado, irônico. Porque o estilo verdadeiro, pra Bukowski, não tem nada a ver com dinheiro, status, ou bons modos. Tem a ver com postura. Com o modo de atravessar a vida, mesmo que ela esteja te atravessando primeiro.
“Antes fazer uma estupidez com estilo do que fazer algo perigoso sem estilo.”
O que se revela aqui não é cinismo, mas critério. Bukowski nos lembra que o mundo não vai te poupar — então ao menos sangra com classe. Estilo, pra ele, é a última defesa de quem já perdeu quase tudo.
A lista de “artes” é um tapa na cara da alta cultura. Tourada, boxe, amor, sardinha. Tudo é arte se for feito com verdade. Não importa a grandeza — importa o impacto.
“Conheci homens na prisão com estilo.
Conheci mais homens com estilo na prisão do que fora dela.”
Essa é a parte em que a poesia vira faca. O mundo “lá fora” é mais conformado do que as celas que Bukowski viu por dentro. E talvez seja por isso que ele confia mais no estilo do condenado do que no do engravatado.
“Seis garças em pé tranquilas numa poça da água
Ou você, saindo nua do quarto, sem me ver.”
E quando o poema termina, ele faz isso com um soco de imagem. Nem garça, nem mulher: é o momento. É o intervalo em que algo simples vira inesquecível — só porque foi feito com estilo.
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