sexta-feira, 18 de abril de 2025

Medo da Eternidade - Paulo Leminski

Eterno demais pra valer

Por Pinguim Urbano

Relógio quebrado no chão de um corredor escuro, simbolizando o peso da eternidade e o fim do tempo.
    
Medo da Eternidade

sei que a vida não presta
sei que a vida não dura
sei também que a vida é curta
e que não vale a pena
nenhuma vida ser eterna

~Paulo Leminski

Leminski não está pedindo desculpas por ser pessimista. Ele está sendo honesto — o que é bem mais raro. O poema começa com uma constatação seca: a vida, do jeito que ela é, não compensa. Não por ser dolorosa, mas por ser mal distribuída. Rasa demais pra merecer eternidade.

Aqui, o poeta não está em crise existencial. Está de saco cheio. Cada linha é uma martelada na ilusão de que viver já basta. “Sei que a vida não presta” — sem drama, só lucidez gelada.

A ironia aparece no último verso: “nenhuma vida ser eterna”. Parece contrassenso — afinal, eternidade costuma ser um prêmio. Mas Leminski inverte: se a vida já vem com prazo de validade emocional, estendê-la seria punição. E nesse ponto, ele não fala só da vida biológica. Fala das vidas emocionais, sociais, das repetições cansadas de quem vive no piloto automático.

No fim das contas, esse poema é um lembrete incômodo de que a pressa, a solidão e o cansaço não são exceções — são o manual da vida moderna. E talvez, só talvez, o verdadeiro alívio seja saber que acaba. E que não precisa durar pra sempre.


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