sábado, 19 de abril de 2025

O Amor - Carlos Drummond de Andrade

Amor sobrevive, mas não sai ileso

Por Pinguim Urbano

Coração pichado em um muro sob chuva intensa, isolado por faixa de polícia com viatura e agentes ao fundo, simbolizando o assassinato do amor.
  
O Amor

O amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

Drummond não romantiza. Ele resume. O amor, pra ele, não é flor. É campo de batalha. E mesmo assim, o amor vence. Não por ser forte — mas por ser teimoso. Porque o amor apanha, sangra, morre mil vezes... mas continua reaparecendo. Como um sobrevivente de guerra emocional.

Chamar o amor de “primo da morte” é declarar parentesco com o fim. É admitir que amar tem prazo, tem risco, tem algo de perda embutida. E que, ainda assim, a gente insiste. Ou pior: a gente nem precisa insistir — ele volta sozinho.

“por mais que o matem (e matam)”

Essa linha entre parênteses parece sussurro, mas é soco. Quantas vezes o amor já morreu no seu peito? Quantas vezes você matou o de alguém? Drummond não acusa. Ele constata: o amor é uma coisa frágil que vive morrendo. Mas mesmo assim, continua por aí. Como um viciado em reaparecer no pior momento.

A vitória do amor sobre a morte, no poema, não é heroica. É quase patética. É o tipo de vitória que vem depois de todos os outros perderem. O amor vence, sim — mas depois de muita gente sair ferida.

E isso é o mais humano que Drummond podia dizer. Que amar dói. Que amar destrói. Mas que ainda assim... o amor insiste em viver. Mesmo que a gente não queira mais.


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