Amor sobrevive, mas não sai ileso
Por Pinguim Urbano
O Amor
O amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
Drummond não romantiza. Ele resume. O amor, pra ele, não é flor. É campo de batalha. E mesmo assim, o amor vence. Não por ser forte — mas por ser teimoso. Porque o amor apanha, sangra, morre mil vezes... mas continua reaparecendo. Como um sobrevivente de guerra emocional.
Chamar o amor de “primo da morte” é declarar parentesco com o fim. É admitir que amar tem prazo, tem risco, tem algo de perda embutida. E que, ainda assim, a gente insiste. Ou pior: a gente nem precisa insistir — ele volta sozinho.
“por mais que o matem (e matam)”
Essa linha entre parênteses parece sussurro, mas é soco. Quantas vezes o amor já morreu no seu peito? Quantas vezes você matou o de alguém? Drummond não acusa. Ele constata: o amor é uma coisa frágil que vive morrendo. Mas mesmo assim, continua por aí. Como um viciado em reaparecer no pior momento.
A vitória do amor sobre a morte, no poema, não é heroica. É quase patética. É o tipo de vitória que vem depois de todos os outros perderem. O amor vence, sim — mas depois de muita gente sair ferida.
E isso é o mais humano que Drummond podia dizer. Que amar dói. Que amar destrói. Mas que ainda assim... o amor insiste em viver. Mesmo que a gente não queira mais.
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