O Coração Risonho – Bukowski, entre os escombros do otimismo
O coração risonho
Sua vida é sua vida
Não deixe que ela seja esmagada na fria submissão.
Esteja atento.
Existem outros caminhos.
E em algum lugar, ainda existe luz.
Pode não ser muita luz, mas
ela vence a escuridão
Esteja atento.
Os deuses vão lhe oferecer oportunidades.
Reconheça-as.
Agarre-as.
Você não pode vencer a morte,
mas você pode vencer a morte durante a vida, às vezes.
E quanto mais você aprender a fazer isso,
mais luz vai existir.
Sua vida é sua vida.
Conheça-a enquanto ela ainda é sua.
Você é maravilhoso.
Os deuses esperam para se deliciar
em você.
Há uma doçura amarga em "O coração risonho", como se Bukowski cuspisse flores manchadas de sangue. O tipo de poema que não pede licença para entrar, mas invade a sua cabeça, abre a geladeira, fuma um cigarro e ri da sua depressão.
Bukowski nos empurra para dentro de um buraco, só para depois gritar lá de cima: “levanta, seu desgraçado, tem um pouco de beleza aqui”. E o pior é que tem. Ele fala sobre o desespero da vida comum, da rotina sem sal, dos dias cinzentos. Mas em vez de mergulhar de cabeça nisso, ele procura... não a felicidade. Isso seria otário demais. Ele busca aquele pequeno detalhe que ainda faz sorrir. Um cão lambendo a cara. Um livro lido pela metade. Um disco velho. Um copo que não caiu da mesa.
Esse poema é uma surra emocional embalada num convite suicida ao otimismo. Bukowski diz: “Continue com o coração risonho”, mas a voz dele parece dizer: “...mesmo sabendo que o mundo quer ver você cair”.
Não é otimismo Disney. É otimismo de quem já viu a sarjeta e sabe o gosto do concreto. O tipo de esperança que sangra. Que sobrevive ao desemprego, ao abandono, ao silêncio das pessoas que juraram amor eterno.
“Você deve manter-se ereto, o coração risonho e pronto para qualquer coisa.”
Essa linha não é motivacional. É manual de sobrevivência. É o grito de quem tá cansado, mas ainda assim veste as botas e vai. Porque, no fundo, não tem escolha. Porque parar de rir seria dar a vitória para um mundo que já te deu pouco e ainda quer tirar o resto.
Pinguim Urbano assina embaixo. Porque às vezes tudo que a gente tem é isso: uma gargalhada amarga. Um riso torto diante do caos. E seguir.
Com o coração risonho, ainda que ele esteja em frangalhos.
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