segunda-feira, 5 de maio de 2025

O Abismo - DárioJr.

O Abismo – Análise Poética

Por Pinguim Urbano • Publicado em Café com Caneta

O poema "O Abismo", de Dário Junior, é um mergulho visceral na vertigem do colapso interior — aquele momento em que a vida parece nos arrastar sem piedade em direção a um ponto sem retorno. Com imagens poderosas e simbolismo sombrio, o texto evoca a sensação de ser puxado para a beira de um descontrole emocional, onde o abismo é metáfora e destino.

A primeira metade do poema apresenta a inexorabilidade da queda: somos arrastados como por uma correnteza, sem forças ou recursos para resistir. A cachoeira ao longe é a visão daquilo que virá e que não pode ser evitado. A imagem do “fim da linha” não apenas sugere morte ou colapso literal, mas o esgotamento de todas as alternativas, a completa impotência diante da força avassaladora da existência.

“Você sente que ao chegar lá, perderá sua mente
seu corpo, sua vida.”

Aqui, a linguagem é crua. Não há espaço para eufemismos. A dor psíquica é apresentada como queda física — a metáfora se funde à experiência.

A seguir, o tom se torna mais reflexivo e íntimo. O eu lírico pondera se deve reagir ou se entregar, se deve tentar encontrar “esperança em meio a tanta treva” ou apenas aceitar o destino como ele vem. Há uma ironia amarga em se perguntar se vale a pena “acreditar no que dizem” — especialmente depois de ter ouvido “mentiras sinceras” e testemunhado o “monstro que em humanos se hospeda”.

“E quando chegar à beira do abismo
será voo ou queda?”

...é um dos pontos altos do poema. A dúvida é filosófica, existencial: há liberdade possível dentro do colapso? Viver o sofrimento é cair — ou pode ser voo? Um voo torto, talvez, mas ainda assim uma forma de resistência?

Por fim, o poema se aproxima do confessional. O narrador sugere que essa experiência é recorrente — “eu já estive aqui” — e conclui com um aviso inquietante:

“e isso inevitavelmente chegará até você.”

Essa frase, quase ameaçadora, é também um abraço involuntário ao leitor. Ninguém está imune. Todos, em algum momento, irão olhar o abismo nos olhos.

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